Para mim é
estranho e surpreendente que só com a pandemia eu tenha conhecido o Prof.
Miguel Nicolelis e, principalmente, o Verdadeiro Criador de Tudo. Quisera eu
ter tido a oportunidade de conhecer todo o trabalho de Nicolelis, não só como
neurocientista, mas como um verdadeiro Professor, aquele que através de
determinadas abordagens consegue atingir os alunos, tornando-os mestres de seu
próprio aprender, como ele relata em Made in Macaíba.
Em o
verdadeiro criador de tudo, os véus que cobrem nossos olhos, as guias que
dirigem nossos pensamentos e nossa vida são eliminados e podemos entender que o
caminho tomado até agora é extremamente deletério para a vida que nós
conhecemos ou que somente podemos imaginar ter existido, ou então nos suceder
evolutivamente.
Quando comecei
a ler O Verdadeiro Criador de Tudo eu já tinha assistido a várias “lives” com o
Professor Nicolelis e, intuitivamente, me dei conta de quem era esse tal
criador que o professor estava falando no livro. Nesse momento eu “travei” e
parei de ler o livro. Eu não queria ver onde essa publicação iria me levar. Não
queria mexer com minhas crenças. Mas a ideia não me saia da cabeça. A simples noção
de que tudo em que eu acreditava no plano divino ou etéreo estava totalmente
errada me perturbou muito, embora eu já soubesse disso intimamente. No entanto comecei
a questionar tudo em que eu acreditava, seja espiritual, filosófico, político, científico
etc., utilizando o fato de existir ou não evidências científicas que
explicassem os fenômenos naturais ou os pensamentos (estatutos) humanos.
Eu me senti a
pessoa mais burra no mundo! Todo o meu chão caiu quando botei a ciência em
primeiro plano, e como eu tinha completamente ignorado que as loucas manifestações
deste mundo eram somente frutos de cabeças que tinham mergulhado demais na
abstração mental e se perdido no próprio labirinto que criaram e que afirmavam
ser a “única verdade”. Que diabos eu tinha na cabeça para acreditar em tais “abstrações
irracionais”?
Conforme eu me
acertava com o meu Verdadeiro Criador de Tudo, fui tomada por uma sensação de alívio,
mas também de pena. Alívio porque eu não iria para o inferno ou ficaria presa
no umbral após eu morrer, de acordo com minhas supostas crenças religiosas, mas
pena porque eu não reveria minha mãe falecida. O que também não deixa de ser
uma incongruência porque eu não iria ter a noção, a consciência de estar morta.
No entanto, comecei a analisar os fatos ou ideias que me deixam deprimida e
algumas reações irracionais passam a não mais fazer sentido lógico, mas o corpo
ainda sente, ainda lembra.
No meio desse
processo de redescobrimento de mim mesma eu voltei a escrever! Me sinto liberta
de muitos dogmas que restringiam minha criatividade e amor-próprio. Agora eu
danço quando quero, canto como quero, escrevo de novo e repensei toda a minha
tese de doutorado. Na verdade, não existem palavras para descrever este
ressurgimento das minhas brainets originais.
Um ponto que
eu gostaria de abordar é o fato de eu não conseguir aceitar a definição de vida
inteligente que se usa no meio cientifico. Ela parte do pressuposto de que nós
somos inteligentes porque pensamos, falamos, escrevemos etc. Alguém já parou
para pensar em como os outros seres vivos que habitam este orbe conosco, os
mamíferos superiores, por exemplo enxergam e analisam o nosso universo? Esta
indagação parte do fato (opinião pessoal) de que esta nossa “sapiência” é a
responsável pelo próximo evento de extinção em massa!
Você não
encontra neste planeta nenhuma outra espécie que mate por prazer que seja
invejosa ou ciumenta. Toda a vida neste planeta só mata para saciar a fome, há
não ser o Homo sapiens. É só olhar em volta e pensar, se tudo o
que criamos nos tivesse levado a uma vida melhor, mais saudável, mais
igualitária, não estaríamos vivendo um processo de extinção artificial. Com
certeza, (e neste ponto me aproprio do uso da fofoca utilizada por Nicolelis) a
fofoca, a inveja, o ciúme, o medo, a raiva, o amor, foram os fatores
preponderantes que alteraram a nossa evolução, nos levando a sempre tentar
preencher nosso vazio íntimo
com coisas que, na verdade, fogem do que seria uma vida em harmonia com a
natureza. É como se a entropia do ser humano fosse a mais forte possível, a
ponto de sempre nos sentirmos vazios ou fora do rumo! Consumimos tanta energia
lutando por algo desarmonioso, que não é a nossa função ecológica, que causamos
um “curto-circuito” no nosso fluxo energético. A luta pela sobrevivência em um
mundo extremamente desigual, onde os mais vulneráveis trabalham para “alimentar
a boca” dos não vulneráveis, faz com que os primeiros tenham que se esforçar em
dobro para sobreviver o que acaba deixando-os com seu “estoque de energia” no
vermelho.
Penso se isso
não seria fruto também de atitudes das classes dominantes nos últimos milênios
em deter a informação para si mesma de maneira a controlar as massas. Aliás,
tudo o que sabemos se baseia no conhecimento acumulado por populações que se
desenvolveram na Europa principalmente em torno do Mediterrâneo. Será que só
essa população tentou descrever o mundo? Outras civilizações não teriam feito o
mesmo, deixando registrado essas concepções em pedras e construções que ainda
não compreendemos por que o nosso referencial (o ser humano) não é o
instrumento de comparação adequado para tal façanha?
A despeito do
que presumimos, não somos tão evoluídos assim, visto que em todo o mundo o ser
humano usa ornamentos físicos para se diferenciar, seja nas tribos originárias
do Brasil, seja nas cidades mais luxuosas do mundo. No entanto este
comportamento não passa de um mecanismo biológico para a escolha de parceiros que
gerem a melhor prole. Bruno Latour afirma que jamais fomos modernos, já que o
nosso comportamento é o mesmo de uma tribo selvagem (mas o terráqueo ainda sobe
nas tamancas para dizer que isso não é verdade, mas basta olhar em volta e
perceber que ainda somos tribais). Em nenhum aspecto – a não ser períodos
curtíssimos e de certa forma regionalizados – o H. sapiens pode ser
considerado um ente em harmonia com o planeta em que vive.
Após a nossa
passagem e vida continuará no planeta, mas não vai ser a mesma que conhecemos.
Ela será o produto de uma nova evolução e seleção natural provavelmente de
organismos que vivem nas profundezas dos oceanos ou de microrganismos que
surgirão após o derretimento do permafrost do Ártico e dos quilômetros
de neve da Antártica.
As riquezas ou
ganhos financeiros que nós conhecemos advêm da extração, uso e industrialização
de bens naturais, os quais não são distribuídos equitativamente entre todos os
habitantes e outros seres vivos do planeta, o que também foi o estopim de
muitos conflitos bélicos, onde os que defendem a vida são aniquilados pelos
supostos “donos” (empresários, investidores, políticos) de cada pedaço de terra
onde pisamos e vivemos.
É por isso que
a história da minha vida, ou melhor, que a história de quem eu sou pode ser
dividida em antes e depois de eu conhecer Miguel Nicolelis e o seu trabalho.