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terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Minha vida - Parte I

 O que eu vou relatar aqui pode parecer roteiro de filme de tão trágico, mas infelizmente essa é a verdade. Por muito tempo não expus ao mundo meus problemas médicos, por medo da exposição, por medo do que outros pensariam, por medo de prejudicar minha família e agora, no final, ainda tenho medo. Mas não consigo mais guardar isto. Por que só eu sei o quanto eu sofro de dores, reais ou irracionais, mas continuo me mantendo ereta, continuo a olhar para a frente, para algum happy ending que nunca se tornará realidade. Como não tenho o intuito de contar toda a minha vida aqui (e acreditem é muito drama) me atenho a relatar os acontecimentos que tem feito com que a minha seja um inferno.

Sou portadora de uma mutação genética chamada de Síndrome de Li-Fraumeni[1], a qual impede que meu organismo ofereça defesas naturais contra o câncer. Qualquer desenvolvimento anormal de qualquer célula no meu corpo, (que seria extirpado se eu tivesse defesas) pode se tornar um tumor. Tanto que já tive câncer da tiroide duas vezes, assim como câncer de mama, tive que retirar um tumor do tamanho de uma batata pequena da veia porta do fígado, retirei o útero e o ovário, retirei pólipos das cordas vocais (quatro vezes), retirei também um pólipo maligno do intestino e tenho um tumor, ainda pequeno, no cérebro (tão pequeno que ainda não dá para operar). Some à isso problemas de artrose nos joelhos e toda coluna vertebral, asma (no momento leve mas que me fez ficar muito doente quando ainda tinha menos de um ano de idade até os 13 anos por causa de broncopneumonias recorrentes). Já se vão mais de 15 cirurgias e creia-me isso vai minando o espírito e a minha capacidade de superação. Já não dá mais para levantar, sacodir a poeira e seguir em frente. Estou com 56 anos e sei que quanto mais eu envelhecer, mais tumores vou ter, já que é assim que a mutação age. E para qualquer suspeita o tratamento consiste em remover cirurgicamente os tumores. Não tem outro tipo de tratamento. Todas as minhas células possuem essa mutação. Não posso doar órgãos ou sangue. E mesmo assim o governo do estado de São Paulo não me aposenta, quando a diretoria de ensino erra no meu tempo de serviço e fala que eu tenho que trabalhar mais dois anos! Sim, tenho vontade de me matar, e já tentei três vezes, mas sempre me impediram a tempo. Eu só queria ficar em casa e não ter que me preocupar em ir trabalhar em um lugar onde as pessoas não entendem que só quero acrescentar, ajudar, não substituir ninguém. Queria poder virar esta página da minha vida, mas parece que a minha cruz ainda está muito leve! Estou muito cansada. 😢😢😢

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